Brasil, 2022. Uma cena materializa um país: Na tentativa de impedir um caminhão de furar um protesto de apoiadores de um derrotado Jair Bolsonaro contra a vitória de Lula nas eleições presidenciais, um homem vestido de verde-amarelo, braços abertos em cruz, agarra-se à frente do veículo e é arrastado, por quilômetros. O episódio impensável serviu de inspiração para Eu Não Te Ouço, novo filme de Caco Ciocler, que estreia no Festival do Rio.
Para dar conta desse Brasil que perdeu a capacidade de se ouvir, o diretor convocou Márcio Vito — veterano de filmes como A Ostra e o Vento (1997), A Vida Invisível (2019) e Malu (2024). Entre a sátira e o comentário político, o ator vive tanto o motorista do caminhão quanto o “patriota“, inaugurando um jogo de espelhamento e projeção. Um não-diálogo, interditado pelo vidro do veículo que separa o País.
“Eu Não Te Ouço é um filme sobre esse vidro. Três anos depois, com Bolsonaro julgado e preso por tentativa de golpe de estado e Trump aplicando sanções econômicas ao país em punição à decisão da Suprema Corte, o país segue tentando uma conversa consigo mesmo que soa cada vez mais impossível”, afirma Ciocler.
Ator premiado no teatro, cinema e na TV, Caco Ciocler começou uma carreira como diretor que já soma um curta e quatro longas. Os três últimos formam a trilogia política do cineasta: Partida (2019), O Melhor Lugar do Mundo é Agora (2022) e Eu Não Te Ouço encerra com chave de ouro. O filme integra a Première Brasil: Competição Novos Rumos, do Festival do Rio.