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A construção do racismo estrutural através das propagandas de produtos de beleza

Entenda como resíduos do passado ainda estão presentes na atualidade.

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Vestimentas da década de 1920. (Foto: Reprodução)

Você sabia que os padrões de beleza estão relacionados com discursos e práticas dominantes de poder que inclusive podem gerar sobre os corpos violências veladas?

Se não sabe, vou te contar sobre e também vou explicar como isso tudo está relacionado aos padrões de beleza e saúde  do século XIX e início do XX, período que ficou conhecido como Belle Époque.

A beleza instituída como padrão no Ocidente, e que inclusive influenciou o Brasil naquela época  foi moldada por médicos junto com outros profissionais da saúde e o governo que, além de remodelar o urbanismo e a arquitetura das principais capitais como o caso da cidade de São Paulo, Rio de Janeiro, entre outras, decidia quais corpos deveriam frequentar aquele cenário repleto de estabelecimentos como as confeitarias, os cafés, os teatros, as lojas, entre outros.

O processo de gentrificação (pequena nobreza) ajuda a descrever e analisar as transformações observadas em diversos locais das grandes cidades, como o caso da cidade de São Paulo. Nessas cidades, as remodelações urbanísticas e arquitetônicas acabam segregando determinados sujeitos que não pertencem a determinada classe social e que, por isso, não devem ocupar a mesma paisagem urbana daqueles que podem consumir naquele local, em lojas e restaurantes requintados, circulando com seus automóveis ou como pedestres sempre muito bem vestidos, calçados e perfumados . Basta observar determinados espaços e lugares para perceber que a boa situação financeira tem aroma, sabor, gestos, vestes, e as pessoas que dela desfrutam têm um modo muito próprio de viver e experimentar a vida em seus próprios corpos.

Rua 15 de novembro, São Paulo, 1906. (Foto: Reprodução)

Dessa forma, os discursos hegemônicos, ou seja, de poder, ditavam qual seria a postura dos corpos, as feições das faces, e a indumentária a ser usada para que, com gestos adequados, pudessem ser os homens e as mulheres os frequentadores e consumidores na cena urbana. Além disso, os teatros, os restaurantes, os cafés, as confeitarias com doces e salgados requintados, as lojas de perfumes e produtos de toalete, de tecidos, de roupas, de chapéus, de luvas, de sapatos, de joias, de relógios (relojoarias), entre outros artigos, como de mobiliários, de tapeçarias e de louças, expunham seus produtos nas vitrines para serem comprados. Os passeios para ver vitrines eram formas de ver e ser visto, ou seja, a experiência de exibir-se de forma bela dentro dos padrões propostos como civilidade e assim excluía aqueles que estiveram fora dos padrões ditados pelos médicos eugenistas, higienistas e sanitaristas, corpos de afrodescendentes, e de outras etnias que não fossem de origem europeia ou estadunidenses foram estigmatizados como feios e doentes.

As raízes do racismo estrutural foram regadas através de discursos que chegavam a população através de propagandas publicitárias de produtos de toalete, ou seja aqueles que eram usados para limpar e perfumar os corpos como a propaganda do sabonete Vizella que  passa a mensagem através do texto e imagem  de que o produto é  o remédio para doenças de pele, na qual fica implícito que o malefício a ser curado é a cor da pele, já que não aponta qualquer enfermidade. A brancura da pele, como sinônimo de saúde e beleza, aparece em outras propagandas como também nos discursos e práticas excludentes que infelizmente ainda são praticadas na atualidade ao lado de outros tipos de violências como a física e a verbal, que passam ainda a compor diversas formas de preconceitos, exclusões e segregações sociais. Tomar consciência das violências simbólicas e veladas é uma forma de entender o porquê esse tipo de ação ainda é praticado contra os corpos de muitas pessoas. É preciso conhecer e entender as causas para não repetir tais atos repugnantes.

Publicidade racista de 1920. (Foto: Reprodução)

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