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ÁUDIO | Ator de ‘Todas as Flores’ revela assédio nos bastidores da TV Globo: ‘Muita vergonha’

André Pimentel estreou na emissora carioca na minissérie ‘Anos Rebeldes’; ator conta os bastidores de uma história de perseguição e abuso de poder.

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André Pimentel participou recentemente de 'Todas as Flores', da TV Globo. (Foto: Divulgação)

O ano era 1992. Estreava na TV Globo a minissérie “Anos Rebeldes”, de Gilberto Braga, que contava uma história de amor entre Maria Lúcia (Malu Mader) e João Alfredo (Cassio Gabus Mendes) nos anos que os militares tomaram o poder no Brasil a partir de 1964. Uma obra histórica que foi ao ar justo no ano que o então presidente Fernando Colllor sofreria um impeachment.

Na semana passada, o ator André Pimentel, 57, que participou recentemente do elenco de “Todas as Flores”, da TV Globo, e que fez parte do elenco de “Anos Rebeldes”, fez um post em suas redes sociais para relembrar o sucesso da minissérie, que está disponível no catálogo da Globoplay.

Postagem feita por André Pimentel com parte do elenco de Anos Rebeldes, entre eles, Marcelo Serrado, Cassio Gabus Mendes e Malu Mader. (Foto: Reprodução)

A coluna procurou o ator para falar da experiência de ter feito parte de uma obra tão importante mostrando o contexto histórico do Brasil.

“Eu era muito fã de Malu Mader e Cassio Gabus Mendes, eram meus ídolos. No dia da estreia, que foi na casa da Malu, o Gilberto [Braga] veio me cumprimentar [pela atuação]”, disse o ator.

A minissérie Anos Rebeldes foi reprisada diversas vezes, além de ser lançada em DVD.

Assédio

Pimentel disse que o clima nos bastidores da minissérie com os colegas era muito bom, mas que algo parecia não estar correto.

“Eu me sentia muito tenso, me sentia cercado, além de muito cobrado, tinha muita expectativa sobre mim, [dava a impressão de que] eu não estava ali exatamente pelo meu talento não, sabe?”, contou.

O ator revelou que existia assédio contra ele nos corredores da emissora carioca.

“Tinha ali nos bastidores um clima de assédio mesmo. ‘Olha, se você não fizer determinadas coisas, você não vai ter continuidade aqui’. Eu era abordado pelos corredores mesmo. Não era uma coisa muito velada não”, explicou Pimentel.

Questionado por este jornalista, André contou que o assédio partiu de um diretor da minissérie.

“Era quem mandava ali. Era um diretor. [Me sentia] totalmente impotente. A vontade que eu tinha era de sair, ir embora, só que eu não podia fazer isso. Eu nunca tinha tido um contrato na minha vida”, explicou.

André Pimentel relatou o quanto essa situação o deixou traumatizado.

“O problema do assédio é que te deixam numa sensação de incompetência […] na hora você fica pensando: o que é um ator e se um ator pode ser também um prostituto”.

O artista relatou que após a minissérie, houve uma escalação para a novela “Pátria Minha”, em 1994. Pimentel ganhou o papel e atuou na trama.

“Essa mesma pessoa que me assediou foi uma pessoa que foi muito gentil comigo depois. Eu achei que estava tudo esquecido e, de repente, começou tudo de novo. Foi o mesmo processo”, disse.

 

Marcelo Serrado, Pedro Cardoso, André Pimentel e Cássio Gabus Mendes em cena de Anos Rebeldes. (Foto: Reprodução)
André Pimentel em cena de Anos Rebeldes, 1992. (Foto: Reprodução)

Trauma

André contou que esse comportamento assediador do diretor poderoso da Globo, o fez ficar sempre na defensiva. Ele chegou a fazer terapia para entender tudo aquilo que estava acontecendo.

“Eu virei uma pessoa extremamente na defensiva com tudo, uma pessoa extremamente insegura. Quando me chamavam para alguma coisa, eu sempre ficava pensando: Será que vai acontecer? Será que vou ter que passar por isso de novo?”, ressaltou.

O ator disse que nunca contou principalmente naquela época, sobre tudo que aconteceu por sentir vergonha.

“Eu tinha muita vergonha. E fora que eu achava que essa pessoa [o diretor] tinha contado para todo mundo que eu tinha transado [com ele, o diretor], sabe? Eu sentia isso no ar. Sabe quando os câmeras te olham com desdém? Era uma coisa muito esquisita. Hoje em dia todo mundo tem todo direito de não acreditar [nessa entrevista] porque passaram muitos anos [mas] isso faz parte da minha história. […] Eu não quero falar o nome dessa pessoa [assediador] mas se você for ver o histórico sentimental dessa pessoa, é uma pessoa extremamente infeliz. Se você for ver a relação dela com as drogas, a relação dela com o mundo, então eu fico pensando que no final das contas eu não me prostitui e estou muito bem”, explicou.

André contou que o diretor que o assediou em ‘Anos Rebeldes’ estava também dirigindo ‘Pátria Minha’.

“Isso me atrapalhou? Me atrapalhou por dentro. Eram cinco, seis cabeças [diretores] que mandavam e infelizmente foi uma dessas cabeças que cismou com a minha cara. O assédio te destrói por dentro. Eu era uma pessoa que queria desbravar o mundo e virei uma pessoa indolente. Eu virei uma pessoa que não queria ir mais atrás, porque eu pensava: será que vale a pena?”, explicou Pimentel.

André Pimentel e José Mayer durante a novela ‘Pátria Minha’, Globo, 1994. (Foto: Reprodução)

Débora Duarte me ‘pegou no colo’

O ator disse também para este jornalista que a atriz Débora Duarte teria percebido o assédio que estava sofrendo e que deu apoio a ele.

“A Débora Duarte percebeu tudo que estava acontecendo e me ‘pegou no colo’. Eu sou muito grato a ela, porque ela percebeu o que estava acontecendo e [então] ela falou: ‘Que legal que você não cedeu’. Porque em ‘Pátria Minha’ eu fui humilhado na frente de todo o elenco. Esse diretor me expos para todo mundo ali: ‘Você não vai sair comigo mesmo, não?’. Eu acho que ele falou num tom para as pessoas acharem que era de brincadeira. Eu, com muita raiva, falei não! [Por isso], ele me mudou, me colocou em um ponto cego da cena, onde nenhuma câmera ia me pegar [na hora das gravações de Pátria Minha]. Era bem pesado. Isso foi intensificando porque eu não sorria para ele, não o cumprimentava, [peguei] nojo profundo. Eu dava graças à Deus quando não era ele que me dirigia. Quando não era ele, tudo corria bem, até que um outro diretor me disse: ‘André, o que está acontecendo? Você está jogando fora uma grande oportunidade. Você é irmão do Felipe Camargo e do Zé Mayer’. Eu estava apático”, relatou.

André Pimentel e Cássio Gabus Mendes em cena de ‘Todas as Flores’. (Foto: Reprodução)

Reflexão

André Pimentel hoje atua como  professor de teatro em Macaé, Rio de Janeiro, e eventualmente faz participações em produções na televisão.

“Eu sempre falo que não vale a pena [se prostituir] porque você não vai alcançar estrelato desse jeito”, disse André que tem projetos para o futuro.

“Estou reaquecendo minha carreira, tirei novas fotos, estou com 57 anos. Não tem tanto coroa assim no mercado. Alguns ex-alunos meus estão entrando para a direção e estão querendo que eu trabalhe com eles. Vou fazer um curta. Eu nunca parei”, finalizou.

VEJA ABAIXO O ÁUDIO DA ENTREVISTA COMPLETA: 

*Siga o jornalista @marcosbulques no Instagram. 

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