Fernanda Montenegro, 94, marcou presença no lançamento da Revista Brasileira número 119, uma publicação da Academia Brasileira de Letras, que fala do poder das palavras diante do autoritarismo e, sobretudo, da importância de um país democrático. A publicação conta com editorial assinado por Rosiska Darcy de Oliveira, ocupante da Cadeira 10 na ABL.
“Maravilhosa essa ilustração toda, uma temática bem diversa”, disse Fernanda.
Sobre o assunto democracia, a atriz se diz apreensiva.
“Estamos a perigo. Eu sou de um tempo em que a gente sonhava e sonhava na aleluia. Eu acho que hoje a gente sonha, mas não no estado de aleluia. A gente sonha apreensivamente. A gente acorda e tem que cantar, não tem? Acordou, tá ótimo! Ainda estamos aqui, temos que dar um caminho digno, mesmo que seja num sonho, a vida é sonho”, explicou.
“Eu acho que hoje a gente sonha, mas não no estado de aleluia” (Fernanda Montenegro)
Simone de Beauvoir
Fernanda Montenegro estará em São Paulo para uma apresentação da leitura dramatizada intitulada: ‘Fernanda Montenegro lê Simone de Beauvoir’, uma leitura onde Montenegro relembra a trajetória da feminista Simone de Beauvoir. Ela aproveitou para falar dos teatros lotados.
“Nós temos apresentado [a leitura dramatizada) com os teatros lotados. Então, isso é uma vida vivida desde os primitivos tempos. O teatro é algo eterno, e ficamos muito felizes porque a nossa leitura teve uma aceitação inesperada na medida que ela chegou lá, entendeu? Vamos agora para o Ibirapuera [em São Paulo] fazer uma leitura. Imagina, não é uma encenação, um show, é uma leitura, e os jovens vão. Praticamente metade de toda essa plateia que tem vindo, lotado, é tudo jovem, saem comovidos, às vezes “, contou a atriz.
Fernanda Montenegro questionou este colunista sobre o porquê dessa emoção dos jovens. Ao que foi respondido que pela história e, sobretudo pela dramatização da artista.
“Eu não me ouço, eu não me vejo, eu sei o que eu leio. Eu trabalhei nessa junção de tanta posição expressada, de uma forma muito forte, eu trabalhei dois anos, dois anos em algumas obras, tirando algo que se juntasse e termino com ela idosa: ‘viver sem tempos mortos, mesmo com grande idade, beirando os 100 anos, viver sem tempos mortos’. Isso é maravilhoso, dá uma força de você levantar da cadeira e andar”, explicou Fernanda.
“Viver sem tempos mortos, mesmo com grande idade, beirando os 100 anos, viver sem tempos mortos” (Fernanda Montenegro lê Simone de Beauvoir)
A atriz falou também se depois de uma carreira tão longeva, se há algum arrependimento durante todo esse tempo.
“Tudo vale a pena se a alma não é pequena. Tudo vale a pena se a vida não é pequena. O Fernando Pessoa tem essa frase. Eu acho que é essa a frase, eu gosto muito de Fernando Pessoa”, finalizou.
“Tudo vale a pena se a alma não é pequena” (Fernanda Montenegro cita Fernando Pessoa sobre arrependimentos)
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Agradecimento: Rodrigo Adão
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