logo-bco-sem-nome@2x

VÍDEO: Daniela Arbex fala sobre saúde mental de crianças e adolescentes no futebol: ‘clubes não estão preparados’

Jornalista levanta um alerta e fala sobre a frustração de quem não consegue alcançar seu objetivo; Arbex também fala sobre o sucesso de ‘Holocausto Brasileiro’ e sobre as fake news

Compartilhe este conteúdo:

Daniela Arbex. (Foto: Reprodução)

A premiada jornalista Daniela Arbex, 51, coleciona sucessos em sua trajetória no jornalismo. Ela escreveu diversos livros como “Arrastados: os bastidores do rompimento da barragem de Brumadinho”, a história da tragédia que vitimou inúmeras pessoas após o acidente com o rompimento da barragem, que causou o vazamento de rejeitos de minério. A lama acabou atingindo o centro administrativo da mineradora e comunidades da região. Foram dezenas de desabrigados, desaparecidos e vítimas fatais. A tragédia ocorreu em 2019.

Em uma conversa com este jornalista, Daniela Arbex contou como escolheu o nome do livro.

“As pessoas acham que [o nome do livro] ‘Arrastados’ é porque tudo saiu do lugar. Não! ‘Arrastados’ nasceu dentro do IML (Instituto Médico Legal) esse nome, quando eu descobri isso, em função desse arrastamento, as pessoas perderam a camada superficial da pele que dá a coloração dos corpos pretos e brancos. Essas pessoas ficaram todas da mesma cor porque o subcutâneo é branco e aí ninguém ia ser identificado pela cor da pele”, disse Arbex.

Tragédia de Brumadinho em 2019. (Foto: Reprodução)

“Eu acho que um dos papéis mais importantes do jornalismo é construir a memória coletiva do Brasil porque sem memória não há justiça” (Daniela Arbex)

Em tempos das fake News, Daniela refletiu a respeito das notícias inverídicas que invadem a internet diariamente.

“A verdade tem um lugar permanente na história. A gente não pode ter a pretensão de que o que nós estamos trazendo é verdade absoluta, mas com certeza mais próximo que a gente pode chegar da verdade. Existe todo um projeto de poder para descredibilizar o jornalista, para criar uma campanha de ódio contra os jornalistas, isso aí é muito articulado e tem endereço certo, que é tirar a nossa credibilidade porque é o trabalho jornalístico de alguma forma que sustenta a democracia. Então tem esses projetos de poder, e acho que a gente tem que insistir no que a gente está fazendo, porque o que a gente está fazendo incomoda, incomoda o poder, que é o nosso papel de fiscalização, que é o nosso papel de denúncia mas com responsabilidade”, disse.

O horror

A jornalista é também autora do best-seller “Holocausto Brasileiro”, que denuncia os maus-tratos ocorridos no Hospital Colônia de Barbacena, em Minas Gerais, com diversos depoimentos de sobreviventes do hospital psiquiátrico, responsável pela morte de cerca de 60 mil pessoas entre as décadas de 1960 a 1980. A história ganhou um documentário, disponível na Netflix e o filme “Ninguém Sai Vivo Daqui”, do diretor André Ristum, baseado na obra de Arbex.

“Eu acho que um dos papéis mais importantes do jornalismo é construir a memória coletiva do Brasil porque sem memória não há justiça”, explicou a jornalista.

Hospital Colônia de Barbacena. (Foto: Reprodução)

Sonhos perdidos

Daniela Arbex é autora de “Longe do Ninho”, que conta a história e deu voz às famílias das vítimas da tragédia no Ninho do Urubu, o centro de treinamento de jogadores do Clube de Regatas Flamengo, que vitimou dez jovens após um incêndio durante a madrugada de 8 de fevereiro de 2019. Os atletas dormiam naquele momento em contêineres que foram improvisados.

“A gente conseguiu combater uma narrativa oficial que durou cinco anos, que era a narrativa de que os meninos morreram dormindo, como se isso minimizasse o sofrimento das famílias. A gente conseguiu provar que o contêiner chegou a 600 graus, a gente conseguiu provar que o Flamengo sabia dos riscos”, explicou a jornalista.

Ninho do Urubu após incêndio. (Foto: Reprodução)

“A gente conseguiu combater uma narrativa oficial que durou cinco anos, que era a narrativa de que os meninos morreram dormindo, como se isso minimizasse o sofrimento das famílias” (Daniela Arbex)

Frustração

Daniela levantou um alerta sobre a atuação dos clubes de futebol que, segundo ela, não estão preparados para lidar com a saúde mental de crianças e adolescentes.

“É muito importante fazer um alerta nacional de que os clubes não estão preparados para cuidar da saúde mental de crianças e, principalmente os adolescentes, que eles recebem no centro de treinamento. Esses meninos são treinados desde criança para serem jogadores profissionais, só que menos de um por cento vai ser. É uma estatística oficial, então eles crescem achando que serão e quando eles percebem que não vão ser é uma frustração e eles não estão preparados para serem mais nada. Eu entrevistei um menino que falou para mim: ‘eu me sinto velho demais’. Ele tinha 19 anos. Quando um menino de 19 anos fala que sente velho demais para ser qualquer coisa, é sinal que a gente está falhando com essa infância e adolescência, entendeu? São essas questões que tem como pano de fundo esses acontecimentos, mas que ajudam a discutir esse Brasil”, finalizou.

“Esses meninos são treinados desde criança para serem jogadores profissionais, só que menos de um por cento vai ser. É uma estatística oficial, então eles crescem achando que serão e quando eles percebem que não vão ser é uma frustração e eles não estão preparados para serem mais nada” (Daniela Arbex)

ASSISTA A ENTREVISTA COMPLETA ABAIXO:

_______________________

*Siga o jornalista @marcosbulques no Instagram. 

Compartilhe este conteúdo: